Conjuntura Internacional

O que vem depois da guerra?

Por Cezar Roedel

Consultor de Relações Internacionais

[email protected]

 

Iniciar uma guerra é muito mais fácil que terminar uma. A terminação dos conflitos e o que isso implica, em termos morais e normativos, tende a ser um dos maiores desafios à política internacional contemporânea, mergulhada em guerras de alta complexidade, sem previsão de acabar (e quando terminarem, surgirá justamente o desafio aludido). A doutrina filosófica da guerra é uma matéria que foi consolidada desde a escolástica tardia, com grandes tratadistas da envergadura de Francisco de Vitória (1483 - 1546) e Francisco Suárez (1548 - 1617), que aprimoraram a doutrina da Guerra Justa, já bem disseminada por Santo Tomás de Aquino, que magistralmente sedimentou a matéria em seu Tratado da Caridade, na Suma Teológica.

Os grandes tratadistas tentavam, de alguma maneira, impor limites às guerras do medievo, cuja essência era o caos e a completa carência de um lastro moral e normativo. Era preciso criar alguma ordem, principal vislumbre de Francisco de Vitória, que cunhou o termo totus orbis, transmutando a visão particionada dos Estados-nação, erigidos a partir da Raison d’État, ou seja, o realismo do conselheiro dos Medici, Nicolau Maquiavel (1460 - 1527), que afirma não existir moralidade na política internacional, abrindo o caminho para guerras injustificadas.

A terminação dos conflitos

Quando uma guerra acaba é necessário observar a forma de restituição e o estabelecimento da paz (ou da ordem), por meio de mecanismos apropriados. A política internacional contemporânea, todavia, traz em sua complexidade, o desafio aos conceitos propostos. Difícil dizer qual guerra moderna tenha acabado com a fiel observância da restituição e da ordem. Grandes incursões em países estrangeiros, após as guerras, em sua maioria foi um fracasso, assim como grande parte das missões de paz das Nações Unidas, que não conseguiram estabelecer a paz. Basta observarmos o caso do Haiti. A completa anarquia das relações internacionais impõe a sua força realista.

Mas o Ocidente (ou a sua ideia) fora forjado, em termos normativos, pelo Direito Internacional. Aqueles que se contrapõem ao Ocidente querem substituir o Direito Internacional pela sua visão autocrática da sociedade, onde o caminho está livre para Putin, os Aiatolás ou até mesmo os terroristas do Hamas. A guerra na Ucrânia não tem previsão de término, muito menos do que será feito após ela. O Oriente Médio se arrasta também para um cenário delicado, onde o estabelecimento de alguma ordem parece remoto. Terminar uma guerra requer muito mais coragem do que iniciar uma.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Gestões d'hospício - 5

Próximo

O que é administração pública?

Deixe seu comentário